Comitê pelo Meio Ambiente colhe resultados e lança novas metas para 2023

Eduarda Costa

Comitê pelo Meio Ambiente colhe resultados e lança novas metas para 2023
Lançamento do Comitê, em julho de 2022. Foto: Eduardo Ramos (Arquivo Diário)

Conectar pessoas, instituições e movimentos sociais em busca de mudanças efetivas para a causa ambiental. Assim atua o Comitê pelo Meio Ambiente, formado há cinco meses na cidade, provocando discussão e buscando soluções para problemas recorrentes em Santa Maria, na tentativa constante de implementar ações práticas e sustentáveis. 

Com planos a pequeno, médio e longo prazo, o grupo iniciou as frentes de trabalho pelos temas da coleta seletiva e da educação ambiental, promovendo quatro eventos que receberam profissionais de outras cidades para transmitir a experiência e exemplo para a área ambiental de Santa Maria. Entre os grandes passos, frutos dos Grupos de Trabalho criados em outubro, destacam-se um projeto de formação de professores em educação ambiental, e a estruturação da coleta seletiva. Ambas devem ser impulsionadas neste ano, resultando em uma mudança duradoura e significativa para a cidade.

Iniciativas como Comitê, que reúnem figuras públicas da cidade para pensar ações para a região, são um grande suporte para um movimento global de conscientização, pois os resultados conquistados aqui gerarão mudanças a longo prazo para as futuras gerações. Em entrevista exclusiva ao Diário, a secretária estadual de meio ambiente e infraestrutura, Marjorie Kauffmann, pontuou justamente que com o grupo, Santa Maria passa a “fazer a sua parte” no quesito ambiental:

– A educação ambiental é uma questão coletiva. E nós sabemos o quanto é difícil termos inserção no estado inteiro. Então toda vez que temos um comitê, que pensa soluções ambientais para sua região e, em especial, que conhece quais são os maiores problemas e a melhor forma de interagir na sua região, eu acho que a coletividade ganha. Nós sempre mencionamos que o sistema de proteção ambiental do Estado engloba as secretarias e também os municípios, Brigada Militar e a sociedade, com função essencial. Tendo um comitê específico, formado por pessoas da região, é um fato muito positivo, todos têm a ganhar.

Para 2023, dois novos eventos já estão sendo pensados para os meses de março e abril, avançando em novas temáticas que ainda não foram abraçadas pelo Comitê. Entre as principais demandas, agrupar o que a cidade já oferece, aperfeiçoando e colocando em prática reeducações ambientais na população, como o descarte correto dos materiais e a responsabilidade com os recursos hídricos. 

Diretrizes para 2023

Entre as metas para o ano, é unânime entre o grupo o desejo de tornar as ideias planejadas em ações práticas na cidade, fazendo com que, pouco a pouco, a comunidade se sinta atingida pelo trabalho do Comitê. No ano anterior, as discussões foram ampliadas em torno dos temas da coleta seletiva e dos resíduos sólidos, se ramificando em grupos de trabalho. 

– O ano de 2023 será de várias ações, priorizando dar sequência nas temáticas com os dois primeiros seminários voltados à Crise Hídrica e Logística Reversa, respectivamente, bem como potencializando os GTs já existentes e criando novos. Muito temos para fazer e construir colaborativamente. Mãos à obra – destacou Jerônimo Tybusch, pró-reitor de Graduação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

A falta de chuvas e as consequências severas da estiagem também serão tratadas pelo Comitê, bem como a crise hídrica:

– Se pensarmos na temática da crise hídrica, por exemplo, vários atores precisam estar associados neste contexto: análise técnico-científica, comitês de bacias como espaço de representação, necessidades e fatores econômicos, legislação ambiental, entre outros. A ideia central do Comitê pelo Meio Ambiente é proporcionar esses espaços de encontros, debates e trocas intensas, com o firme propósito de engendrar e propor soluções viáveis “desde” e “para” nossas comunidades – afirma.

Confira abaixo as quais serão as principais diretrizes do Comitê pelo Meio Ambiente para 2023, de acordo com Tybusch:

Resíduos Sólidos e Coleta Seletiva;

Educação Ambiental;

Logística Reversa;

Recursos Hídricos;

Plano Diretor Urbano-Ambiental;

Mobilidade Urbana;

Áreas de Preservação Permanente;

Desastres Ambientais;

Conflitos Socioambientais.

Eventos

Lançamento do Comitê

Foto: Eduardo RamosFoto: Eduardo Ramos

Realizado no dia 29 de julho, o lançamento do Comitê lotou o auditório do Diário com pesquisadores e representantes de entidades de Santa Maria para discutir os problemas ambientais da cidade. Para a estreia, o convidado foi o ambientalista e engenheiro químico Claudio Langone, que falou sobre o início de um pensamento sustentável na comunidade.

Ainda, Langone destacou a criação do Comitê como o primeiro passo para a consolidação de medidas de curto, médio e longo prazo capazes de promover a responsabilidade ambiental.

Os desafios da Reciclagem e da Coleta Seletiva

Foto: Eduardo Ramos (Diário) Foto: Eduardo Ramos (Diário)

O segundo evento, promovido no mês de agosto, recebeu dois convidados: Alexandro Cardoso, catador e membro do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, e Simone Bochi Dorneles, professora do IFfar e coordenadora de projetos de extensão.

Entre os avanços, o evento defendeu a reciclagem como forma de economia e auxílio para o meio ambiente, pois com menor volume de resíduo no aterro, menor o custo para destiná-lo. Porém, a ideia ainda está distante de ser executada na cidade, pois sem um projeto eficaz de coleta seletiva, a reciclagem ocorre apenas com os catadores.

Coleta seletiva e resíduos sólidos: a vivência na capital

Foto: Nathália SchneiderFoto: Nathália Schneider

Com participação de representantes da prefeitura de Santa Maria e de Porto Alegre, o evento do dia 21 de outubro trouxe avanços significativos para a implementação da coleta seletiva. Representando a prefeitura local, o engenheiro civil Ivan Nazaroff, da Superintendência de Monitoramento e Fiscalização Saneamento, defendeu o projeto de reciclagem. Na teoria, o modelo deverá contar com um contrato com dispensa de licitação para recolhimento e destinação final dos resíduos recicláveis de Santa Maria, ainda sem data para execução.

O convidado, engenheiro químico e servidor estatutário do Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura de Porto Alegre, Eduardo Fleck, relatou os acertos e as dificuldades dos mais de 30 anos da implementação da coleta seletiva na capital gaúcha. A coleta seletiva da Capital é considerada uma das pioneiras no país. Iniciou em 7 de julho de 1990, com uma experiência piloto no Bairro Bom Fim.

Coleta Seletiva em Novo Hamburgo: uma experiência promissora

Fotos: Nathália Schneider

Trazendo a experiência de uma cidade que já elabora a coleta seletiva, o comitê recebeu, a diretora de limpeza urbana de Novo Hamburgo, Cristiane Hermann, para o quarto e último evento realizado em 2022. A cidade metropolitana serviu de exemplo para criação do projeto de coleta seletiva na cidade, pois tem contrato com as cooperativas por dispensa de licitação. 

Durante a apresentação, a diretora explicou a estrutura inicial, como foram feitos os contratos e como a cidade evoluiu durante os quase 15 anos de execução da coleta seletiva. O público presente pode tirar dúvidas e debater de forma construtiva para a estruturação de um modelo de separação tão urgente para a comunidade de Santa Maria.

Criação dos Grupos de Trabalho

Metas para a Educação ambiental

Para o ano, o Grupo de Trabalho (GT) da Educação Ambiental, ligado ao Comitê pelo Meio Ambiente, planeja o lançamento de um programa de formação sobre educação ambiental nas escolas. Inicialmente, o treinamento será voltado aos professores da Educação Infantil, com possibilidade de evoluir aos alunos e à comunidade.

O principal intuito é ensinar à comunidade, por meio da educação, os deveres de conscientização, cuidado e responsabilidade com o meio ambiente. Durante as formações, devem ser trabalhadas questões como consumo consciente, produção de resíduos nas instituições e leis de preservação das áreas verdes e de proteção ambiental. 

O programa fará parte da rede de educação por meio da lei nº 5506 de 2011, que institui o Programa Municipal de Formação em Educação Ambiental. Conforme a líder do GT, professora Joele Schmitt Baumart, coordenadora dos Anos Finais da Secretaria Municipal de Educação (Smed), a finalização do projeto será o próximo passo do grupo: 

– Os passos para 2023 é a finalização do projeto de formação, e implementação da proposta de formação. Acredito que a formação já será oferecida a partir do mês de abril – planeja. 

Metas para a Coleta Seletiva

Já o grupo da Coleta Seletiva trabalha junto à criação de um sistema de coleta dos materiais na cidade por parte da prefeitura. Entre os empecilhos para a implementação, a principal lacuna é a necessidade de alguma associação de reciclagem estar devidamente regularizada para que possa assumir o contrato de destinação final pela prefeitura. É em busca de soluções que o GT deve atuar neste ano. 

De acordo com o líder do GT, o ambientalista Homero Antunes Boucinha, as discussões com os membros também devem focar no trabalho individual com os catadores, garantindo a segurança do trabalho dos autônomos:

– Em 2023, desejamos estabelecer parcerias para ações emergenciais de saúde e segurança dos catadores autônomos e para incentivar a criação de suas associações e cooperativas. Também vamos mapear e divulgar informações sobre a gestão dos resíduos e estudar alternativas tecnológicas sustentáveis de coleta, aproveitamento e destinação – afirma.

Avaliação e perspectivas para 2023 dos membros

Ivan NazaroffEngenheiro civil da Superintendência de Monitoramento e Fiscalização Saneamento de Santa Maria

“Temos que destacar a importância dos eventos que a gente organizou, a gente trouxe em pauta a coleta seletiva e a gestão de resíduos, que são temas muito importantes. Com esse avanço, foi criado o Grupo de Trabalho da Coleta Seletiva, que iniciou as discussões em 2022, e a gente pretende colocar em prática várias ações em 2023. Principalmente focando nos catadores e na forma de como vai ser realizada essa coleta na cidade e como Comitê pode apoiar todas essas ações.”

Ricardo Lovato BlattesDiretor do departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça

“Acho que nunca tinha havido em Santa Maria essa união de esforços entre universidades, setor produtivo e da política, todos com o intuito de “sentar e resolver”. Nós começamos e estamos maiores. Acho que tem muita coisa para fazer, o comitê é um ponto de partida, e nós não podemos parar. Ainda temos muitos desafios, como proteger nossos morros, os cursos de água, garantir a coleta seletiva, e nenhuma dessas mudanças é fácil. Acho que agora temos que fazer com que todo esse discurso se transforme em ações práticas, de alterações legislativas, garantindo, inclusive, recurso para que as políticas públicas possam ser implementadas.”

Jerônimo Siqueira TybuschPró-reitor de graduação da UFSM

“O grande avanço que tivemos foi justamente a criação do Comitê, e firmá-lo enquanto um formador de rede entre pessoas e instituições. Fomos sensíveis ao diagnosticar problemas do município e que são problemas globais como a coleta seletiva, os resíduos sólidos e a logística reversa. Em 2023 avançaremos nesses temas e em outras temáticas ricas para o município e que precisam de resultados. Temos os grupos formados que vão conseguir trazer diagnósticos a partir do diálogo com profissionais, e a partir disso fazer proposituras. Vamos trazer exemplos e experiências, como nos eventos de 2022, e a partir do Comitê, trazer questões que impactem todos os setores para um avanço maior.”

Caroline da Fonseca CechinChefe de gabinete da Reitoria da UFN

“Foi um semestre de experiência e troca de ideias entre as instituições que estão no grupo e com a sociedade santa-mariense. A gente viu o interesse das pessoas em contribuir, de várias entidades e órgãos da cidade. Para 2023, com o andamento dos GTs, a nossa prospecção é de que a educação ambiental consiga evoluir, e levar para as escolas e sociedade no geral a discussão da consciência ambiental da população. Assim como o trabalho da coleta seletiva, que é um grande projeto de Santa Maria para 2023. Acho que a gente construiu em conjunto, com um grupo muito legal de pessoas, um pensamento para melhorar as condições e construir um meio ambiente mais saudável para a cidade.”

Alcionir Pazatto AlmeidaDiretor de extensão do IFFar

“Nós estamos muito satisfeitos porque desde julho conseguimos, mensalmente, criar temáticas e angariar forças com as instituições de ensino, o poder público e privado e com a sociedade. Conseguimos sensibilizar as pessoas para um tema tão importante que envolve a todos nós. Para 2023, esperamos somar cada vez mais esforços e que possamos sair da parte da teórica e da sensibilização e ir de encontro a uma parte efetiva, colocando na prática tudo o que trabalhamos ao longo de 2023.”

Fabiana SparrembergerDiretora de Jornalismo do Grupo Diário

“Quando iniciamos, nosso receio era que depois de um tempo perdêssemos a coesão do grupo, a periodicidade das reuniões e os compromissos firmados entre todos. E a gente observa que durante esses cinco meses conseguimos manter o mesmo comprometimento que nos moveu no início, tanto no Comitê quanto nos Grupos de Trabalho formados. Tivemos reuniões de trabalho em vésperas de feriado e em período de férias, e nós estávamos aqui, projetando o que faríamos para agregar. Agora, vamos projetar as primeiras ações práticas, aquelas que vão mostrar o Comitê no dia a dia da comunidade. Teremos muito trabalho pela frente, nessa missão de longo prazo.”

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